A História do jogo com Ossos
- brasilvoduehoodoo
- 14 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de mai. de 2023
Por : Alexandre Yamazaki

Denomina-se Oráculo com Ossos um antigo sistema utilizado pelos Nganga-a-Ngombo, Tábi e Kabuma, Sacerdotes consagrados ao culto de Nkuku-a-Lunga = Deus da Adivinhação, a divindade principal de todo o sistema religioso de Angola e Kongo. A adivinhação é praticada num cesto dentro do qual estão diversos objetos sagrados, desde os elementos naturalísticos até mini esculturas talhadas em madeiras especiais com que esta casta sacerdotal manipula conforme determinadas regras. O recém iniciado no culto é denominado Nganga-a-Ngombo e acessa o oráculo através de um sistema composto de apenas 74 peças. Numa posição hierárquica imediatamente superior, situam-se os Tábi, cujo oráculo é composto pôr 112 peças e conhecido como Ngombo Muana (Ngombo novo). Acima destes estão os Kabuma, que consultam o oráculo através de Ngombo Uxina (Ngombo adulto), cujo número de peças é sempre superior a 112 chegando a atingir 210 unidades. Devemos ressaltar que, por sua importância e precisão, o Ngombo Uxina é manipulado exclusivamente pelos Kabuma, o mais alto grau entre os sacerdotes consagrados ao culto. O cesto utilizado como base para as peças é feito de palha e revestido, na parte externa, pôr uma pele de Njima ou Kariaxi espécie de felino semelhante à nossa jaguatirica, apertada pôr uma correia em todo o seu contorno. No interior do cesto, são colocados pós mágicos como os feito de pó de pena de Kisala Nkugu (pena de papagaio africano), pó de pena de Sehelela (pequeno pássaro cujo canto assemelha-se á gargalhada humana), uma escama de Lukaka (mamífero africano), pós de Uina (cogumelo) etc. À mistura destes pós, adiciona-se cinzas da madeira de uma determinada árvore e óleo de palma. Obtém-se uma massa que serve para forrar o interior de cesto e, nesta mesma massa, são introduzidos dois pedacinhos de madeira, retirados da árvore em questão. O Ngombo propriamente dito é representado por um fruto de tombe, sendo este, o chefe de todas as peças sagradas de adivinhação existente no cesto. Na escala hierárquica de valores do Ngombo, seguidamente está a Atató ni Muana (a família), que é constituída pôr três figuras representando o pai, a mãe e o filho e é considerada a peça nuclear do sistema. A figura apresenta os pais deitados com o filho entre ambos. As três estatuetas ficam deitados numa pele de ngombe(boi), cobertas com um disco de couro ornamentado com nzimbu (búzios). Além da Atató ni Muana, também dão a este conjunto de três peças o nome de tupele. Este vocábulo, porém, designa o conjunto de todas as peças sagradas de adivinhação. A Divindade Suprema do Ngombo é Nkuku-a-Lunga - O grande pensador, Deus da adivinhação e da sabedoria -, que recebeu de Nzambi Ndala Karitanga, seu pai-avô, poder divinatório. É Ele quem preside todas as consultas e orienta os Nganga-a-Ngombo, Tábi e Kabuma, principais sacerdotes de todo sistema religioso de Angola e Kongo. Antes de qualquer adivinhação, o sacerdote faz o rito das pemba e do mukundu (pós sagrados), evocando primeiro os Makulu Ngombo (espíritos dos grandes adivinhadores) e, em seguida, evoca às Mahamba (divindades), ao mesmo tempo que chocalha o musambu (chocalho duplo feito de cipós). Depois, o adivinho e o consulente fazem menção de juntar as mãos, batendo palmas em seguida. Repetem outra vez, enquanto o sacerdote pronuncia a seguinte evocação : “Ngo mu Nkuku-a-Lunga kuata bana Ngombo ua ua xikuma eme ngana.” Cuja tradução é: “Ouve o que digo e toma as minhas palavras, cumpra o Tratado de Ngombo Senhor da adivinhação pai de todos as tribos bantu.” Cada vez que o sacerdote sacode o cesto de adivinhação pousa-o sobre a esteira em que está sentado, fazendo, então, a leitura dos tupeles (amuletos) que apareceram à superfície do cesto, junto à pemba e ao mukundu, ai fixados. As tradições Bantus, tem uma premissa básica nesta Arte-Divinatória, quem responde não são Deidades, Deuses e Orixás distantes da realidade e das misérias humanas, mas sim os seus ancestrais, que tão bem conhecem os dramas, as crises e a vivencia humana terrena. Alexandre Yamazaki
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